Curso Economia para não Economistas, 5º edição.
Espaço USP Maria Antônia. Segundo Semestre 2019.
Aula de História Econômica, Sistema Monetário Internacional.
Na terceira aula do curso, acompanhamos as transformações históricas ocorridas nos último séculos tomando como referência o Sistema Monetário Internacional. Pudemos, então, nos questionar sobre o dinheiro que levamos conosco em nossas carteiras.
Assim, atravessamos o reinado da Rainha Vitória da Inglaterra século XIX, a unificação Alemã ocorrida em 1871, a corrida Imperialista dos países europeus para contextualizarmos o chamado Mecanismo de Compensações Regressivas, então, em voga.
Seguimos historicamente com a instalação da Primeira Guerra Mundial, o impacto da Revolução Russa, o revanchismo europeu constituído no Tratado de Versalhes, a Crise de 29, a proposta do New Deal, a Ascensão das Ideologias Nazifascistas em território europeu, o impacto da Indústria Guerra para as economias nacionais, até alcançarmos o fim da 2º Guerra Mundial e assinatura do acordo de Bretton Woods.
Compreendemos o contexto que favoreceu e permitiu a instalação das políticas do chamado Estado de Bem-Estar Social europeu e o incentivo ao Consumo de Massa do lado norte-americano.
Com a reestruturação de Europa e Japão começa a trajetória dos déficits norte-americanos e o fim da Era de Ouro do capitalismo passa a fazer parte do horizonte de expectativas da economia capitalista.
Com a elevação das taxas de juros norte-americanas em 1979, a eleição de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, assistimos a paradigmática quebra do Sindicatos dos Mineradores Ingleses e terminamos a aula com o início da Década Perdida de 1980.
O panorama histórico é parte integrante das modificações ocorridas ao longo da história do câmbio mundial, desta forma, pudemos compreender o assento delegado à Economia no hall das ciências humanas aplicadas.
Em seguida, trecho baseado no artigo: A exuberância irracional do capital. Um estudo de história econômica dos últimos 60 anos de capitalismo e de sua dinâmica. in: Encontro de Pós Graduandos - FFLCH-USP, VI., 2011, São Paulo. Encontro de Pós Graduandos - FFLCH-USP, VI., 2011.
Antes mesmo do final dos conflitos da Segunda Guerra Mundial, os países integrantes da Ligada das Nações já se reuniam em torno de um dos temas que seria da maior importância para assegurar a retomada econômica das nações no pós-guerra: a repactuação do Sistema Monetário Internacional sobre novos contornos.
O novo acordo foi disputado por duas propostas, a norte-americana representada por Dexter White e a proposta Britânica liderada por Jonh M. Keynes. O Sistema de BW (Bretton Woods), como assim ficou conhecido, alcançou seus parâmetros de funcionamento ao final da década de 50 quando finalmente as nações puderam assegurar as paridades fixas e conversíveis de seus câmbios, após anos de reconstrução de Europa e Japão.
Com a retomada econômica destes países as relações econômicas se alteraram e em pouco tempo os Estados Unidos, que vinham acumulando superávits, passaram a apresentar uma série de déficits em seus balanços[1].
A expectativa dos signatários de BW diante das paridades alcançadas era a de que o Sistema Monetário Internacional alcançasse seu equilíbrio com a participação do restante das economias. Porém, tal projeção não se confirmou. O dólar americano garantiu sua posição privilegiada sobre todas as demais econômicas nacionais, ao manter-se como a moeda de estoque. O câmbio fixo conversível internacional não trouxe o efeito esperado, segundo o qual, as moedas entrariam em equilíbrio e o dólar tenderia ceder sua característica dominante.
Este novo cenário monetário não se confirmou, pelo contrario, mesmo com as paridades alcançadas, os EUA mantiveram-se dominantes na circulação e no estoque cambial, entretanto, com a retomada da Europa e Japão a economia internacional assistiu a ampliação das transações comerciais e a geração de mais valores. Desta feita, a manutenção deste acordo não tardou a apresentar efeitos contraditórios. Os EUA passaram a acumular recorrentes déficits, não somente em suas exportações.
Posto que a emissão de moedas conversíveis estava atrelada a quantidade de ouro em estoque e conforme a economia internacional se expandia, também cresceria a necessidade de emissão de moedas, esse é o chamado Dilema de Triffin[2]. O presidente francês, à época, Charlles De Gaulle, repetidamente declarou-se contrario aos privilégios acumulados pelo governo norte-americano, o qual diante de um dólar supervalorizado, permanecia como moeda de estoque internacional.
Em pouco tempo a situação se agravaria e os EUA não poderiam garantir a conversibilidade dólar-ouro. Foi o que aconteceu a partir de 13 de agosto de 1968, o presidente norte-americano, Richard Nixon, vetou a conversibilidade do dólar ao ouro. O sistema de paridades fixas e conversíveis de BW desfez-se. Logo em seguida, os países europeus abriram o câmbio de suas economias à flutuação, pois a situação tornou-se insustentável podendo comprometer suas atividades internas, com o avanço da inflação e até mesmo uma fuga de capitais devido à especulação cambial, - que retornava ao cenário internacional.
As tentativas elaboradas para a reorganização do Sistema Monetário Internacional buscavam o recuo da posição privilegiada do dólar a fim de estabilizá-lo. A alternativa tributária das ideias de Keynes, o Bancor, foi proposta em reuniões realizadas no Fundo Monetário Internacional. Todavia um novo acordo foi frustrado com a negativa norte-americana. Em resposta as iniciativas de reorganização do Sistema Monetário Internacional assistiu-se no início da década de 1980 a elevação inesperada da taxa de juros norte-americanos pelo presidente do Federal Reserve, Paul Volker. Esta medida acarretou a elevação imediata da dívida de todos os países credores dos cofres norte-americanos a longo prazo. Tal demonstração de força econômica e política fez com que as propostas de reorganização fossem retiradas de cena.
A elevação da taxa de juros alcançou o objetivo de manter, sem alterações, o arranjo no qual o Sistema Monetário Internacional se encontrava. Porém, como consequência, gerou uma crise interna no setor produtivo exportador estadunidense. O setor produtivo norte-americano diante da alta do juro perdia competitividade no comércio internacional, engessando o grande setor da economia norte-americana. Iniciava a chamada Década Perdida.
[1] Com a retomada do crescimento na Europa e no Japão, registrou-se uma melhoria nas balanças comerciais. A Europa passou a ser um ponto de atração para investimentos de empresas norte-americanas (...). Não foram outros países que passaram a registrar déficits persistentes, mas sim os Estados Unidos. (Eichengreen, 2007, pág 156).
[2] O mundo todo precisava de dólares para poder acomodar a expansão do comércio internacional, mas dólares se tornavam disponíveis para outros países quando os Estados Unidos tinham déficits em suas operações externas e pagavam pela diferença enviando dólares ao exterior, aumentando a liquidez internacional; esse aumento de liquidez, contudo, ao ser gerado por déficits nos pagamentos dos Estados Unidos, contribuía para enfraquecer a confiança no próprio dólar. Quanto mais liquidez fosse criada, mais crescia a desconfiança no valor da moeda americana. (Carvalho, 2004, pág 11).
SALVIATTI, Ana Paula.
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